O Prelúdio número 1 de Bach, presente no Cravo Bem Temperado Vol1 (CBT Vol1) já foi motivos de discussão e muita confusão, principalmente entre os Luteranos.
O Cravo Bem Temperado, como já abordado neste pequeno artigo, foi composto com intuito de demonstrar a viabilidade de uso do sistema tonal temperado, servindo como guia de estudo para alunos e compositores. Desta forma, as obras publicadas em ambos os livros (CBT Vol 1 e Vol 2) não possuem cunho diretamente sacro. Desta forma, estas obras não estariam ligadas diretamente a uma denominação religiosa ou doutrina específica. E realmente, não era este o intuito, uma vez que seu fim não era o uso pela igreja, mas sim o ensino da música.
A fonte de confusão - Ave Maria de Gounod
O grande motivo de discussão entre os Luteranos frente a esta obra reside em sua grande semelhança com a Ave Maria de Charles Gounod, obra está alicerçada na doutrina católica e fonte de grande discussão entre o teólogos e fiéis protestantes.
Antes de qualquer coisa, precisamos ter em mente que são duas composições diferentes, de autores diferentes, portanto é importante situarmo-nos em datas. O primeiro Volume do Cravo Bem Temperado foi publicado por volta de 1722. Como Bach não possui por costume anotar a data de composição de cada obra em suas partituras originais, não se sabe exatamente quando foram escritas e compostos cada uma das obras presentes no livro. A Ave Maria de Gounod, porém, foi composta por volta de 1853, desta forma, temos o quadro abaixo:
- Prelúdio n1 - CBT Vol1 - Publicado em 1722
- Ave Maria de Gounod - Composto em 1853
A grande confusão ocorre devido ao uso do Prelúdio n1 de Bach, como base para a Ave Maria de Gounod. Para composição da obra, Gounod teria utilizado os manuscritos de Christian Friedrich Gottlieb Schwencke, que possuíam a adição de uma melodia. Sobre esta melodia, Gounod compôs a Ave Maria, utilizando desta forma, a harmonia e arranjamento do Prelúdio n1 de Bach como acompanhamento e base para a obra.
Obras distintas, porém...
Ambas, são obras distintas, porém para o público em geral acabaram por ser a mesma obra. A Ave Maria de Gounod é basicamente uma transcrição do prelúdio n1 de Bach, com a adição de uma melodia que segue a tendência harmônica da obra original. Porém, devido a mesma ter sido muito utilizada pela igreja católica e possuir um acompanhamento ímpar e característico, é comum a identificação da obra por leigos em geral. Desta forma, o Prelúdio n1 de Bach acabou por ser descaracterizado como uma obra de Bach, sendo confundido com a Ave Maria de Gounod pela grande maioria dos leigos.
Isto gerou um fato intrigante: Bach, o maior compositor Luterano, possui uma obra que não pode ser executada em igrejas Luteranas por ser confundida com uma das obras mais importantes da doutrina católica.
Não! Não são obras distintas. Gounod escreveu a linha melódica da Ave Maria sobre todo o Prelúdio de Bach, acrescentando apenas um compasso com a finalidade de construir uma quadratura na melodia.
ResponderExcluirConcordo em partes. Tenho que fazer algumas considerações:
Excluir1 - O prelúdio número 1 foi criado com outro proposito, e não de ser uma obra sacra;
2 - As datas de criação das duas obras se diferem;
3 - O prelúdio, que foi utilizado para criação da Ave Maria, já existia enquanto obra. Portanto, a Ave Maria deve, no mínimo, ser considerada uma obra derivada.
Desta forma, podemos dizer que é algo muito parecido com o que acontece hoje em dia com o Creative Commons. Obras Derivadas são aceitas (caso o autor queira).
Derivações de obras e reutilização de melodias era bem comum até o século 19 na igreja. O Hinário Luterano é CHEIO destes casos. De hinos e músicas sacras derivadas de outras obras originais (como Hino 189, Exultantes, derivado do quarto movimento da 9ª sinfonia de Beethoven).
Nos casos apontados acima, temos apenas a mudança da letra ou uso de melodia/arranjos com inclusão de letras, ma ainda assim, são obra diferentes. Não para dizer que o Hino 189 é a 9ª Sinfonia ou vice-versa. Seria mudar o proposito de cada obra artística, e principalmente, simplificar a sinfonia a um simples canto congregacional.
No caso da Ave Maria, temos toda uma melodia adicionada, o que corrobora o que tenho defendido: Trata-se de outra obra, derivada sim, mas outra obra, com finalidade distinta e composta em época distinta. Então dizer que "O Prelúdio número 1 é a Ave Maria", é um grande erro e altera completamente o sentido do Prelúdio, pois muda a sua razão de existência.